ABRUPTO

5.5.05


DOIS ANOS


YEATS - RUMO A BIZÂNCIO
(UMA TRADUÇÃO INÉDITA DE VASCO GRAÇA MOURA)


Rumo a Bizâncio

Velhos não têm país. Os jovens tão
enlaçados e as aves em trinado
- levas que hão-de ir -, açudes do salmão,
mares de cavalas em cardume, e alçado
em peixe, carne ou pássaro, no verão,
tudo o que nasce e morre, após gerado,
desleixa em sensual música infrene
testemunhos do espírito perene.

Um homem velho é coisa não prestante,
um casaco de trapos em bengala,
a menos que a alma bata as mãos e cante,
cante alto os mortais trapos a tapá-la,
sem escola de canto e prescrutante
dos monumentos dessa excelsa gala;
assim cruzei os mares e assim
a Bizâncio, cidade santa, vim.

Sábios que estais no fogo divinal
como em mosaico de oiro na parede,
girai, do fogo santo, em espiral,
mestres do canto e da minha alma sede.
E consumi meu coração: em mal
de ansiar e preso a um bicho à morte, vede,
não sabe o que é; levai-me de verdade
ao artifício da eternidade.

Ido eu da natureza, não se irá
meu corpo em forma natural formar,
mas qual de ourives grego ela será
de oiro batido e de oiro a esmaltar
que apático imperador despertará,
ou posta em ramo de oiro há-de cantar,
nobres e damas de Bizâncio a ouvir,
do que passou, ou passa, ou há-de vir.

(W. B. Yeats)

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© José Pacheco Pereira
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