ABRUPTO

23.9.14


O PREÇO QUE VAMOS PAGAR 

Ah! O preço final do “novo banco”, eis a variável de que se fala pouco e que está por debaixo do tapete das decisões mais recentes, e que tem que ter o máximo escrutínio público visto que é o “nosso” dinheiro que está em causa. Não há um cêntimo no Fundo de Resolução que não seja público, quer o que o governo lá meteu, quer o que os bancos foram obrigados a pagar para a sua existência, visto que se trata de um imposto, logo é “nosso”. Ora, como também os meus leitores sabem, visto que aqui já foi escrito, “tempo” e dinheiro não coincidem. Bento queria mais tempo, para vender um banco “estabilizado”, logo mais caro. O governo parece prescindir de um valor final maior, na hipótese de tal ser conseguido num banco ferido, a favor de resolver depressa a questão, mesmo que mais barato. A questão é que se é assim, tal posição é também a de quem o queira comprar, que pode pagar menos, absorver o “novo banco” num banco que já seja bom a sério e acabar com um poderoso concorrente. Em cima da mesa, já não está o interesse em “salvar” o banco, mas o interesse em fazer um bom negócio com os seus restos. 

 E O PREÇO INVISÍVEL 

Mas não é o preço apenas a que devemos estar atento, porque, habituados a estar sempre a ser enganados, temos que olhar para a letra pequenina dos contratos. Aquela para que ninguém prestou atenção, por exemplo, na EDP antes de andar a elogiar encomiasticamente a sua privatização.

 É que o universo BES está pejado de ilegalidades, umas evidentes outras prováveis, e aqui refiro-me às que acompanharam o modo como se dividiu o “bom banco” do “mau banco”. Por exemplo, o que é que aconteceu aos bens dos Espíritos Santo e dos outros “donos”, foram nacionalizados, expropriados, confiscados ou quê? Pensam que quem ficou prejudicado com a decisão, pequeno ou grande, vai aceitar sem litigar? Pensam que Ricardo Salgado está lá num hotel de luxo a fazer o quê com os papéis? De quem é esta ou aquela parte do património do GES, o que é que se passa com Angola, como é que as decisões portuguesas se vão compatibilizar com as decisões dos tribunais luxemburgueses, ou americanos, ou do Panamá? Vai ser um maná para os advogados “de confiança”, e uma coisa eu tenho a certeza: quem comprar o “novo banco” ou o faz barato e arca com a carga da litigância, ou se o comprar mais caro, vai exigir garantias de que na volta, não o possa ou perder, ou ter que entregar algumas coisas “boas” que vieram na divisão. Quem é que pode dar essas garantias? O governo. Com que dinheiro? O nosso.

 Talvez por tudo isto se exija o maior cuidado com o que as agências de comunicação nos vão colocar no prato todos os dias, ou na benemérita imprensa económica, ou nas “informações” dos comentadores.

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© José Pacheco Pereira
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