ABRUPTO

7.3.14


  
 ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA: FUGIR A TOMAR DECISÕES 


 O modo como a Assembleia da República está a fugir de tomar posições é bem revelado no modo como se empurrou para o eterno e adiado futuro a decisão sobre o Acordo Ortográfico. Percebe-se que a opinião dos deputados não conta para nada, mesmo havendo uma possível maioria contra o Acordo, e que apenas a força do impasse político internacional, transformada em inércia, mantém as coisas como estão. Ou seja, a língua portuguesa continua a estragar-se todos os dias, apenas porque ninguém quer saber disso nas elites políticas, nem tem coragem de dizer sim ou não. Ou não quer defrontar os interesses que explicam a manutenção de um acordo moribundo, mas deixado apodrecer no meio das palavras de uma velha língua que infecta e gangrena. Estamos assim.

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POR QUE RAZÃO O “GRAVIDADE” É CONSIDERADO UM BOM FILME?


Sou um velho amador de ficção científica e por isso boa testemunha de como as novas técnicas de efeitos especiais no cinema revolucionaram os filmes da especialidade. Elas, por si só, permitiram uma dimensão ficcional difícil de imaginar quando dos primeiros filmes com este tipo de temas. Mais: estão no âmago do cinema de ficção cientifica desde o “tiro na Lua” de Méliès, a partir de Júlio Verne. Mas não chegam, até porque se não houver outra coisa qualquer rapidamente os filmes ficam ultrapassados, porque novas técnicas surgem todos os dias. Filmes como o 2001 Odisseia no Espaço de Kubrick estão vivos não por causa dos efeitos especiais, mas porque tinham personagens como o computador Hal 9000, cuja “morte” é uma das melhores cenas do cinema de sempre. 

Vem isto a propósito do muito aclamado Gravidade de Alfonso Cuarón* que tem de facto bons efeitos especiais, sem por isso serem muito inovadores. Representam o state of the art entre o IMAX e a animação digitalizada, mas não chegam para merecer a aclamação que tem tido e os Óscares que recebeu. A “história” é miserável e sem imaginação, a milhas de muitos outros filmes de ficção cientifica, e a representação é boa, mas não é excepcional, até porque o filme não “puxa”. Estou certo que, depois de se esquecer a chuva destruidora de meteoritos, com muito bang sonoro e 3D visual, será rapidamente esquecido.

* Por erro meu no original da Sábado foi referido James Cameron como o realizador.

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6.3.14


   
 UCRÂNIA – CUIDADO COM OS “BONS” E OS “MAUS” 
 
Lá estamos nós outra vez a embarcar num ciclo entre a propaganda e a ignorância, associado a muita impotência, a pretexto da Ucrânia. Já temos os “bons”, os revoltosos da Praça Maidan, os ucranianos ocidentais, a União Europeia (imagine-se!) e os EUA, aliados às forças da “liberdade” e “democracia”, e os “maus”, os ucranianos orientais pró-russos (cujas manifestações não passam na televisão), os russos propriamente ditos, invadindo a Crimeia a pedido de um Presidente corrupto (neste caso é pura verdade). Já foi assim nos Balcãs, agora é na Ucrânia. A União Europeia, porque não lhe convém, nada diz da Geórgia, ou da Moldávia, onde partes do território estão sob “protecção russa” de governos pró-moscovitas e populações que querem os russos para os proteger dos nacionalistas pró-georgianos e pró-romenos. E, mesmo nos Balcãs, situações apodrecidas e apenas mantidas num congelador subsistem até ao próximo conflito, na Sérvia, na Croácia, na Bósnia ou no Kosovo. São o retrato de intervenções ocidentais apressadas, politicamente correctas, mas não oferecendo a esses “países” senão linhas divisórias mantidas em “paz” por forças estrangeiras. 

Uma política irresponsável da União Europeia e dos EUA face à Ucrânia, incentivando uma revolta dos ucranianos ocidentais, que nunca quiseram a hegemonia russa e tem todo o direito a não querer, conduziu a uma secessão de facto do país, solução para que a União empurrou a revolta, mas não pode sancionar juridicamente. Mas, qualquer pessoa que conheça a história ucraniana, com muito sangue à mistura, não imagina que a Ucrânia oriental aceite ser governada por radicais nacionalistas com uma genealogia complicada desde os anos vinte do século XX, que para essas populações são “fascistas”. E o termo, a julgar pela história, tem alguma razão de ser. O que mais assusta é a facilidade com que se aceita esta dualidade na comunicação social e nos governos. Escrevo isto depois de ler páginas e páginas da imprensa portuguesa, em que o “europeísmo” exacerbado leva a estas mobilizações politicamente correctas dos “bons” contra os “maus”, que acabam sempre num impasse. Veja-se a Síria. 

Em países ou áreas do mundo como é o Leste da Europa ou as Balcãs, no Cáucaso ou até no Báltico, não se podem atear fogos nacionalistas, - que é o que a muito pouco nacionalista União está a fazer, - sem estar disposto a mudar as fronteiras, a coisa mais razoável a fazer em casos em que os países foram artificialmente criados a partir de territórios muito heterogéneos. Ou mesmo sem ser capaz de aceitar deslocações de populações, que a muito civilizada Sociedade das Nações fez no século XX entre a Grécia a Turquia, e agora seria um anátema. O resultado é forçar “limpezas étnicas” feitas na guerra e na violência extrema, como aconteceu na Bósnia de que muito se fala e na Krajina sérvia dentro da Croácia, em números a mais significativa, mas de que não se fala. 

A crise ucraniana está só no seu começo. Os russos mandam tropas, alguns grupos mais radicais vão disparar no sítio errado contra a gente errada, com os habituais apoios dos serviços secretos, a União Europeia, que não tem tropas, vai ficar, como sempre, dependente dos americanos, e os americanos que estão a sair militarmente de todo o lado vão pressionar a Rússia com sanções económicas. Quem pagará o preço serão os ucranianos, de um lado ou de outro da Ucrânia.

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5.3.14


O NAVIO FANTASMA: QUEM É QUE DISSE QUE NÃO VALIA A PENA PROTESTAR?

Comunicado do Conselho de Ministros de hoje: 


"O Conselho de Ministros aprovou um diploma que reforça os montantes da comparticipação anual da Guarda Nacional Republicana (GNR) e da Polícia de Segurança Pública (PSP) na aquisição de fardamento, respetivamente, pelos militares da GNR e pelo pessoal policial da PSP." 
(Os erros de ortografia são do Governo.)

Manifestação das forças policiais prevista para amanhã.
Fracos com os fortes, fortes com os fracos. 

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2.3.14



PONTO / CONTRAPONTO: NOVO HORÁRIO DA NOVA SÉRIE
  aos domingos às 20 horas na SICN.
  Se o caos do futebol não lhe alterar mais uma vez o horário

HOJE: vudu.

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© José Pacheco Pereira
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