ABRUPTO

27.9.14


PONTO / CONTRAPONTO
  aos domingos às 20 horas na SICN.

  Até o retorno do  caos do futebol lhe alterar mais uma vez o horário.

Tema: a "salsicha educativa".

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23.9.14


O PREÇO QUE VAMOS PAGAR 

Ah! O preço final do “novo banco”, eis a variável de que se fala pouco e que está por debaixo do tapete das decisões mais recentes, e que tem que ter o máximo escrutínio público visto que é o “nosso” dinheiro que está em causa. Não há um cêntimo no Fundo de Resolução que não seja público, quer o que o governo lá meteu, quer o que os bancos foram obrigados a pagar para a sua existência, visto que se trata de um imposto, logo é “nosso”. Ora, como também os meus leitores sabem, visto que aqui já foi escrito, “tempo” e dinheiro não coincidem. Bento queria mais tempo, para vender um banco “estabilizado”, logo mais caro. O governo parece prescindir de um valor final maior, na hipótese de tal ser conseguido num banco ferido, a favor de resolver depressa a questão, mesmo que mais barato. A questão é que se é assim, tal posição é também a de quem o queira comprar, que pode pagar menos, absorver o “novo banco” num banco que já seja bom a sério e acabar com um poderoso concorrente. Em cima da mesa, já não está o interesse em “salvar” o banco, mas o interesse em fazer um bom negócio com os seus restos. 

 E O PREÇO INVISÍVEL 

Mas não é o preço apenas a que devemos estar atento, porque, habituados a estar sempre a ser enganados, temos que olhar para a letra pequenina dos contratos. Aquela para que ninguém prestou atenção, por exemplo, na EDP antes de andar a elogiar encomiasticamente a sua privatização.

 É que o universo BES está pejado de ilegalidades, umas evidentes outras prováveis, e aqui refiro-me às que acompanharam o modo como se dividiu o “bom banco” do “mau banco”. Por exemplo, o que é que aconteceu aos bens dos Espíritos Santo e dos outros “donos”, foram nacionalizados, expropriados, confiscados ou quê? Pensam que quem ficou prejudicado com a decisão, pequeno ou grande, vai aceitar sem litigar? Pensam que Ricardo Salgado está lá num hotel de luxo a fazer o quê com os papéis? De quem é esta ou aquela parte do património do GES, o que é que se passa com Angola, como é que as decisões portuguesas se vão compatibilizar com as decisões dos tribunais luxemburgueses, ou americanos, ou do Panamá? Vai ser um maná para os advogados “de confiança”, e uma coisa eu tenho a certeza: quem comprar o “novo banco” ou o faz barato e arca com a carga da litigância, ou se o comprar mais caro, vai exigir garantias de que na volta, não o possa ou perder, ou ter que entregar algumas coisas “boas” que vieram na divisão. Quem é que pode dar essas garantias? O governo. Com que dinheiro? O nosso.

 Talvez por tudo isto se exija o maior cuidado com o que as agências de comunicação nos vão colocar no prato todos os dias, ou na benemérita imprensa económica, ou nas “informações” dos comentadores.

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BASTA TER BOM SENSO 

 Não dispondo da informação privilegiada que serve para os recados intencionais que são dados aos media, eu esforço-me por praticar o bom senso, o bem que cartesianamente está mais distribuído. E por isso, para os meus leitores, o BES e o GES nunca foram o bom e o mau, e o BES acabaria por soçobrar ao GES, como era de bom senso dizer, em vez de se papaguear a cartilha governamental. E por isso, para os meus leitores, era apenas uma questão de tempo até que a condução caótica do processo do “novo banco” desse no que deu, visto que todas as semanas aparecia um “tempo” de vida diferente, de dois anos a três meses. E por isso, os meus leitores, ficam também já prevenidos que seria bom saber como funciona o dono formal do banco, o Fundo de Resolução, até porque nele estão representados quer os competidores do “novo banco” (que não querem concorrência) e os eventuais compradores do que sobra de bom, ao preço mais baixo possível.

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TALVEZ AGORA VITOR BENTO PERCEBA COM QUEM SE METEU 

Vítor Bento tem escrito sobre o problema da ética nos negócios e na política. Por isso, é uma daquelas partidas que a história prega a todos, poder ouvir palavras como as que Paulo Portas proferiu publicamente numa reunião centrista, em que Vítor Bento passou de bestial a besta. Portas é um dos principais responsáveis, pela sua posição no governo, da escolha de Vítor Bento, visto que todo o processo do BES é conduzido pelo governo utilizando como instrumento o Banco de Portugal. Portas ouviu com certeza as críticas da oposição de que Bento não tinha experiência bancária, de que a escolha tinha sido política, etc. Ele, como toda a muralha de personalidades do governo que se pronunciaram, bem como os comentadores próximos do poder, reagiram indignados a estas acusações incensando Bento até aos limites, como a excepcional escolha para “salvar” o banco. Bento devia ter compreendido que não era tanto ele próprio, nem o resto da sua equipa que eram elogiados, mas a sageza do governo e do seu instrumento o Banco de Portugal, na escolha.

Agora, Vítor Bento teve que ouvir as palavras de Portas, com a mesma repulsa moral que elas suscitam em gente bem formada. Portas fala como se nada tivesse a ver, assim como o governo que faz parte, na escolha de Vítor Bento, uma escolha errada porque não era um “banqueiro” e não “percebia” de banca, não era “profissional” do ofício para que foi escolhido… pelo governo. E depois dá-lhe uma lição moral, a mesma que Marques Mendes e Marcelo Rebelo de Sousa lhe deram, e que segundo este último, “toda a gente” partilha, do PSD de Alcobaça aos seus companheiros de praia:

“Os bancos gerem-se por profissionais e por gente que tenha espírito de missão e que, em qualquer circunstância, perceba que o interesse nacional é superior a qualquer interesse pessoal.” 

Bento portou-se mal ao demitir-se, devia continuar no banco como responsável de fachada, enquanto a cadeia de comando do governo ao Banco de Portugal decidia tudo em nome dele. Ou seja, Bento não aceitou ser um fantoche e isso só lhe fica bem nestes tempos de dissolução moral. Vem agora um tecnocrata mais dúctil.

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© José Pacheco Pereira
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