ABRUPTO

19.3.05


AR PURO


Repin

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EARLY MORNING BLOGS 452

The Czar's Last Christmas Letter: A Barn in the Urals



You were never told, Mother, how old Illya was drunk
That last holiday, for five days and nights

He stumbled through Petersburg forming
A choir of mutes, he dressed them in pink ascension gowns

And, then, sold Father's Tirietz stallion so to rent
A hall for his Christmas recital: the audience

Was rowdy but Illya in his black robes turned on them
And gave them that look of his; the hall fell silent

And violently he threw his hair to the side and up
Went the baton, the recital ended exactly one hour

Later when Illya suddenly turned and bowed
And his mutes bowed, and what applause and hollering

Followed.
All of his cronies were there!

Illya told us later that he thought the voices
Of mutes combine in a sound

Like wind passing through big, winter pines.
Mother, if for no other reason I regret the war

With Japan for, you must now be told,
It took the servant, Illya, from us. It was confirmed.

He would sit on the rocks by the water and with his stiletto
Open clams and pop the raw meats into his mouth

And drool and laugh at us children.
We hear guns often, now, down near the village.

Don't think me a coward, Mother, but it is comfortable
Now that I am no longer Czar. I can take pleasure

From just a cup of clear water. I hear Illya's choir often.
I teach the children about decreasing fractions, that is

A lesson best taught by the father.
Alexandra conducts the French and singing lessons.

Mother, we are again a physical couple.
I brush out her hair for her at night.

She thinks that we'll be rowing outside Geneva
By the spring. I hope she won't be disappointed.

Yesterday morning while bread was frying
In one corner, she in another washed all of her legs

Right in front of the children. I think
We became sad at her beauty. She has a purple bruise

On an ankle.
Like Illya I made her chew on mint.

Our Christmas will be in this excellent barn.
The guards flirt with your granddaughters and I see...

I see nothing wrong with it. Your little one, who is
Now a woman, made one soldier pose for her, she did

Him in charcoal, but as a bold nude. He was
Such an obvious virgin about it; he was wonderful!

Today, that same young man found us an enormous azure
And pearl samovar. Once, he called me Great Father

And got confused.
He refused to let me touch him.

I know they keep your letters from us. But, Mother,
The day they finally put them in my hands

I'll know that possessing them I am condemned
And possibly even my wife, and my children.

We will drink mint tea this evening.
Will each of us be increased by death?

With fractions as the bottom integer gets bigger, Mother, it
Represents less. That's the feeling I have about

This letter. I am at your request, The Czar.
And I am Nicholas.


(Norman Dubie)

*

Bom dia!

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MEMÓRIA CURTA

A facilidade com que o “pack journalism” funciona só pode surpreender os incautos. A rapidez com que se tiram conclusões de fundo de meia dúzia de sinais ainda incipientes e pouco testados é notável. É o caso da ideia de que o “comportamento de Sócrates é comparável ao de Cavaco Silva” (presente no Expresso da Meia Noite da SIC Notícias, no Público de hoje e em meia dúzia de comentários avulsos sobre a gestão do silêncio).

É um estilo? Talvez seja e se o for é positivo. No entanto, tanto louvor só pode vir da diferença com o passado imediato e não de uma qualquer memória sólida que permita tirar conclusões para além de ontem. Entre ontem e hoje, estou de acordo, a diferença é significativa. Mas quanto a anteontem?

Acaso já se está esquecido de que o mesmo louvor se passou com outros governos como o de Guterres e Barroso e, pasme-se, com o de Santana. Se não tivéssemos uma memória pública que nem um mês mantém presente na cabeça, lembraríamos que a formação do governo de Santana foi elogiada também por não ter sido feita na praça pública…

É evidente que vindo depois de quem vem, tudo em Sócrates parece discrição, recato, rigor e dedicação. Não admira que a mera normalidade seja um enorme alívio depois da perturbação sôfrega de todos os dias. Mas não é prudente ir para além disso, porque ainda não se sabe se é um estilo consolidado e sustentado – são as dificuldades a prova dos nove e ainda não houve nenhuma, tem sido tudo um mar de rosas – e acima de tudo, um estilo não é um política, e de política sabemos muito pouco ou de menos.

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18.3.05


OUVINDO AS VÉSPERAS


de Veneza. Um Sol débil parte a meio a Praça, e os canais estão mais cinzentos do que o costume.

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EARLY MORNING BLOGS 451


Of Politics, & Art


--for Allen

Here, on the farthest point of the peninsula
The winter storm
Off the Atlantic shook the schoolhouse.
Mrs. Whitimore, dying
Of tuberculosis, said it would be after dark
Before the snowplow and bus would reach us.

She read to us from Melville.

How in an almost calamitous moment
Of sea hunting
Some men in an open boat suddenly found themselves
At the still and protected center
Of a great herd of whales
Where all the females floated on their sides
While their young nursed there. The cold frightened whalers
Just stared into what they allowed
Was the ecstatic lapidary pond of a nursing cow's
One visible eyeball.
And they were at peace with themselves.

Today I listened to a woman say
That Melville might
Be taught in the next decade. Another woman asked, "And why not?"
The first responded, "Because there are
No women in his one novel."

And Mrs. Whitimore was now reading from the Psalms.
Coughing into her handkerchief. Snow above the windows.
There was a blue light on her face, breasts and arms.
Sometimes a whole civilization can be dying
Peacefully in one young woman, in a small heated room
With thirty children
Rapt, confident and listening to the pure
God rendering voice of a storm.


(Norman Dubie)

*

Bom dia!

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17.3.05


MEMÓRIAS DE BIBLIOTECAS (9ª série)



(Jan Lievens)

Ao ler episódios das Memórias das Bibliotecas veio-me a ligação com as Cooperativas Livreiras de Estudantes que nasceram entre nós nos anos 60. A LIVRELCO, em Lisboa, a UNICEPE, no Porto e a UNITAS em Coimbra.
Para além de algum papel que desempenharam na resistência contra a ditadura, foram âncoras importantes no desenvolvimento cultural e até profissional dos jovens de várias gerações.
Comungando dos ideais do "velho" cooperativismo de Rochedale, eram geridas pelos estudantes, procurando-se fugir aos circuitos comerciais tradicionais e assim fazer contribuir para que o livro pudesse ser uma mercadoria mais acessível a camadas com reduzido poder de compra.
Para além de que, correndo inevitáveis e óbvios riscos, furar o cerco da censura e da figura do "livro fora do mercado" era possível nesses redutos tolerados pelo regime de então, mas sempre vigiados e perseguidos.

Fui dirigente da UNICEPE durante alguns anos (creio que a cooperativa ainda que penosamente, subsiste). O Pacheco Pereira era sócio e por lá o via com alguma frequência. E outros, como o Vasco Graça Moura, o Armando de Castro, o Mário Viegas, para só falar de alguns que me vieram de imediato à memória. Eram tempos de algum idealismo e porventura de alguma utopia. Mas eram também tempos de inconformismo e de afirmação.

(António Moreira)


*

A mim poucas memórias emergem das bibliotecas. Filho de pais humildes, a quem os livros de estudo eram inclusivamente oferecidos por alguém que conhecia editores, só já espigadote comecei a frequentar a biblioteca da mui nobre, sempre leal e invicta cidade do Porto (longe realmente vão os tempos que deram origem a estes epítetos...). No entanto nunca me esquecerei dos longos momentos que gastei a ler nos emergentes supermercados da altura (já lá vão trinta e muitos anos e estas unidades de comércio já faziam furor). Sem ter dinheiro para comprar esses criadores de sonhos, aproveitava a "impessoalidade" desses estabelecimentos comerciais, como felizmente ainda hoje frequentemente encontro algumas crianças, para instalado num canto qualquer me deliciar e me ausentar deste mundo ao entrar por exemplo no mundo delicioso e de aventura de Enid Blyton; e se alguém me oferecia um livrito (o que raramente acontecia) e se gostava dele, lá ficava eu a lê-lo até às tantas, com a luz do quarto apagado (já que a energia eléctrica, apesar de bem apregoado e facilitado o seu uso pelo Dr. Salazar, era cara) e uma lanternita acesa debaixo dos lençóis. Para meu castigo tenho um filhote, que apesar de muito estimulado, a leitura parece ser tortura de Guantanamo. Como é injusta a vida.

(Abel Gomes)

*

A propósito do deslumbramento confessado por Amf perante um milhão de volumes ao alcance físico da sua mão das 7h às 24h, na biblioteca de uma universidade americana, lembro a extrema necessidade de repensar os horários das nossas bibliotecas, a começar pela Biblioteca Nacional. Frequentadora regular da BN nos últimos anos, senti muitas vezes a dificuldade de conjugar a investigação que realizava para o doutoramento com o meu horário de trabalho na escola onde sou professora. Tive mais sorte na preparação do mestrado, beneficiando de inúmeros serões e fins de semana passados na belíssima biblioteca da Universidade de Hong Kong, onde até as diversas máquinas fotocopiadoras espalhadas pelas salas de leitura funcionavam com o cartão que servia de passe para o metro e autocarro.

(Helena Rodrigues)

*

Este texto foi feito a pedido do “Jornal de Coimbra” para a rubrica: O LIVRO QUE NÃO EMPRESTO

Não consigo imaginar-me a recusar emprestar um livro. Não me é fácil, sequer, pensar nessa possibilidade pois, embora me veja a mim mesma como uma leitora compulsiva, nunca fetichizei os livros ou a sua posse. Se, como toda a gente, prefiro ler um livro novo a um muito usado, são-me, contudo, bastante indiferentes os aspectos exteriores ao próprio conteúdo do livro, o que talvez se explique pelo modo como principiou, o que não posso deixar de considerar, como a minha frutuosa carreira de leitora.
Corria o ano de 1958, andava eu na 2ª classe, quando a Fundação Calouste Gulbenkian pôs a funcionar o seu plano de bibliotecas itinerantes. A família acorreu a inscrever-se (pai, mãe, avô, tia e eu, com a toda a importância de uma recém letrada - com cartão e tudo). Durante muitos anos lá ia eu à biblioteca, todas as semanas, levantar os "meus" cinco livros, o número máximo que permitia o estimado professor Armindo Pega. Não foi preciso passar muito tempo para que eu e as minhas duas irmãs lêssemos, cada uma, 15 livros por semana! Ali-Bábá não entrava na sua caverna, cheia de tesouros, e não a olhava com mais êxtase do que nós ao subir para aquela carrinha, cheia de livros usados, prontos a serem emprestados.
As minhas prendas de criança foram sempre livros. Tive esse privilégio, o de ter nascido numa família onde não passava pela cabeça de ninguém que livros não fossem o melhor presente a dar "às miúdas". Devo ao meu Tio Abel livros como "O Feiticeiro de Oz", refulgente nas suas duras e grandes capas amarelas ou "Os Cinco na Ilha do Tesouro", de Enid Blyton, o qual inaugurou, uma sucessão de naufrágios que tornaram o mar da minha infância particularmente enxameado de piratas.
Um dos meus preferidos era a "Ilha do Tesouro" de Robert Louis Stevenson, mas também "Dois Anos de Férias", "Os Filhos do Capitão Grant" ou a "Ilha Misteriosa" de Júlio Verne. A este grupo juntava-se ainda o "Robinson Crusoe" de Daniel Defoe, "Um Robinson Suíço" e os "Robinsons dos Galápagos". Apelando fortemente para a imaginação, com ou sem naufrágio, com ou sem piratas, nestes livros, as personagens são sempre confrontadas com os mil perigos e todos os riscos de meios desconhecidos e adversos e, numa altura em que os programas de física e química ensinavam a fazer sabão, pólvora ou vidro (tudo coisas úteis, especialmente numa ilha deserta) eu passava horas a ficcionar as minhas lutas, vitoriosas (está bem de ver!), contra todas as ciladas que a natureza ou os homens pudessem armar...
A fase dos piratas e das aventuras, desenvolveu-se em paralelo com clássicos da literatura infantil e juvenil. Nomes como Louise May Alcott (Mulherzinhas), Frances Burnett (O Jardim Misterioso), Elizabeth George Speare (A Feiticeira de Blackbird Pond) ou Selma Lagërlof (A Viagem Maravilhosa de Nils Holgersson) constituem, ainda hoje, referências que tenho tentado passar às minhas filhas. O período que imediatamente se segue é marcado não só por autores como Charles Dickens (quilos!), Walter Scott (ainda mais quilos!), Jorge Amado, ou John Steinbeck, mas muito especialmente por Jane Austen e Charlotte Brontë a que sucede, já estudante universitária, o deslumbramento com os "Cem Anos de Solidão", de Gabriel Garcia Marquez ou "L'écume des Jours" de Boris Vian.
Ainda do tempo do liceu, Miguel Torga, cujos livros de contos li pelos quatorze, quinze anos e, antes deste, logo pelos dez, doze anos, o queridíssimo Júlio Diniz. Associarei sempre aos anos 70 autores como Nuno Bragança, Herberto Helder, Jorge Luís Borges, Aquilino Ribeiro, Carlos de Oliveira, José Régio, Ferreira de Castro. Houve autores que li, de rajada, tudo o que deles consegui encontrar como foi o caso de Jorge de Sena, Eça de Queiroz ou o caso mais recente de Philip Roth. Outros que vou acompanhando ao ritmo das suas publicações: Agustina Bessa Luís, António Lobo Antunes, José Saramago e, até há pouco, José Cardoso Pires e Sofia de Melo Breyner.
Tal como ao entrar em certos cafés, em Coimbra, me lembro das "cadeiras" que aí "fiz", quando olho para a minha vida vejo-a sempre pontuada por livros e autores, numa associação automática e imediata. E se dá perversidades como ligar Marguerite Yourcenar e as suas "Memórias de Adriano" à Praia da Rocha, também faz de 1964 o ano de "Servidão Humana" e "O Fio da Navalha" de Somerset Maugham, de 1971 o ano de "Exercícios de Estilo" de Luís Pacheco, de 1972 o ano de "Novas Cartas Portuguesas", de 1973 o ano de "A La Recherche du Temps Perdu", de Proust, ou de 2004 o ano de “A arte de viajar” de Alain de Botton
Poderia continuar a falar de livros ou de autores por muito mais tempo, um prazer que as presentes limitações de espaço não permitem. Um livro não se esgota na sua leitura, permenece, a vibrar, em nós e nas relações que estabelecemos com os outros. Tenho a sorte de partilhar este gosto com muitos amigos e pessoas de família, como a minha Mãe, com os quais participo numa rede informal de empréstimos. É com esse apoio que me mantenho no meu estado habitual de "empresto-dependência" assumido, e que continuo (quase) à altura das minhas médias de criança.
Qual o livro que não empresto? Provavelmente, só mesmo o que estou a ler no momento (no caso presente "A noite do oráculo" de Paul Auster).

(Ana Pires)

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OUVINDO FRANK SINATRA JAZZ!!!


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EARLY MORNING BLOGS 450

ROMANCE DEL REY DON SANCHO


-¡Rey don Sancho, rey don Sancho!, no digas que no te aviso,
que de dentro de Zamora un alevoso ha salido;
llámase Vellido Dolfos, hijo de Dolfos Vellido,
cuatro traiciones ha hecho, y con esta serán cinco.
Si gran traidor fue el padre, mayor traidor es el hijo.
Gritos dan en el real: -¡A don Sancho han mal herido!
Muerto le ha Vellido Dolfos, ¡gran traición ha cometido!
Desque le tuviera muerto, metiose por un postigo,
por las calle de Zamora va dando voces y gritos:
-Tiempo era, doña Urraca, de cumplir lo prometido.


*

Bom dia!

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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: NO FIO DA NAVALHA


onde estão suspensas as pequenas luas de Saturno.

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16.3.05


A LER

De Pedro Caeiro, A "NOVA" DIREITA no Mar Salgado.

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15.3.05


COISAS SIMPLES / SCRITTI VENETI


J. Singer Sargent

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EARLY MORNING BLOGS 449

Semântica Electrónica


Ordeno ao ordenador que me ordene o ordenado
Ordeno ao ordenador que me ordenhe o ordenhado
Ordinalmente
Ordenadamente
Ordeiramente.
Mas o desordeiro
Quebrou o ordenador
E eu já não dou ordens
coordenadas
Seja a quem for.
Então resolvo tomar ordens
Menores, maiores,
E sou ordenado,
Enfim --- o ordenado
Que tentei ordenhar ao ordenador quebrado.
--- Mas --- diz-me a ordenança ---
Você não pode ordenhar uma máquina:
Uma máquina é que pode ordenhar uma vaca.
De mais a mais, você agora é padre,
E fica mal a um padre ordenhar, mesmo uma ovelha
Velhaca, mesmo uma ovelha velha,
Quanto mais uma vaca!
Pois uma máquina é vicária (você é vigário?):
Vaca (em vacância) à vaca.
São ordens...
Eu então, ordinalmente ordeiro, ordenado, ordenhado,
Às ordens da ordenança em ordem unida e dispersa
(Para acabar a conversa
Como aprendi na Infantaria),
Ordenhado chorei meu triste fado.
Mas tristeza ordenhada é nata de alegria:
E chorei leite condensado,
Leite em pó, leite céptico asséptico,
Oh, milagre ordinal de um mundo cibernético!


(Vitorino Nemésio)

*

Bom dia!

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14.3.05


FALTA DE …., OLHEM, FALTA DE TUDO

de sentido de estado, de boa educação, de respeito mínimo por todos.
É o que significa esta história da Câmara de Lisboa.

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ESTRANHO

O momento e o lugar e o livro e a música. Junto a um cemitério de aldeia, alto, escuro do granito, espraiado por um pequeno planalto, sem casas perto. O livro ocasional, o Post Office do Bukowski. A música ocasional, Charles Ives. Nada que especialmente me interessasse, comprados por excesso: o livro por curiosidade, porque não gosto muito do autor; a música por curiosidade, porque o disco recebera um prémio da Grammophon e eu não conhecia a peça (engano, afinal já a tinha ouvido, um pouco Promm…). Quem juntou esta improvável mistura, por si só bizarra, excessivamente intelectual, foi a Grande Ceifeira, a que cria o inesperado, e que me apanhou entre um morto, um disco adiado e um livro improvável. Tudo o que tinha , na altura, por acaso, no momento que não se espera. Não soprava vento nenhum. Nada batia certo e na cabeça sempre este Eliot, também improvável:

LET us go then, you and I,
When the evening is spread out against the sky
Like a patient etherised upon a table;
Let us go, through certain half-deserted streets,
The muttering retreats
Of restless nights in one-night cheap hotels
And sawdust restaurants with oyster-shells:
Streets that follow like a tedious argument
Of insidious intent
To lead you to an overwhelming question …
Oh, do not ask, “What is it?”
Let us go and make our visit.


Os intelectuais são insuportáveis. Não têm inocência, arrastam coisas a mais.

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INTENDÊNCIA

Continua a actualização da bibliografia dos ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO. Já foi colocado o equivalente a cerca de 80 páginas de texto, o que obrigou à sua divisão em duas entradas, Prevejo que, no final, terá o dobro do tamanho actual, ficando a ser a mais completa bibliografia sobre este assunto jamais feita.

Actualizada a nota O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: A PRESENÇA DO FARMACÊUTICO.

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AR PURO


Renoir

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: A PRESENÇA DO FARMACÊUTICO

(...) volto a escrever-lhe sobre o assunto após o discurso do PM na tomada de posse do Governo. Ou eu não ouvi bem ou as televisões e as rádios não prestaram muita atenção ao que disse o PM. Até o Professor Marcelo que costuma estar tão atento não tocou na questão fundamental. José Socrates disse que uma das primeiras medidas do Governo seria colocar os medicamentos, para os quais não é necessária receita médica, à venda em outros estabelecimentos comerciais que não apenas as farmácias. Mas não disse apenas isto como querem fazer querer as notícias que depois vieram a público sobre o assunto. O PM disse explicitamente que essa medida incluía a presença de um farmacêutico no ponto de venda. E é neste ponto que a medida se torna absurda. Das duas uma, ou os medicamentos chamados de venda livre são vendidos nos hipermercados, ponto final. Ou se está lá um farmacêutico, porque é que os outros medicamentos não podem ser vendidos também? Por alguma razão o local de venda tem influência sobre a competência técnica do farmacêutico?

Além disso, se tivermos em atenção o país para além de Lisboa e Porto, onde, insisto, não há um verdadeiro problema de acessibilidade, que supermercados vão suportar o custo de um farmacêutico para vender apenas alguns medicamentos? No fundo, para o Portugal mais pobre, a medida corre sérios riscos de se tornar inócua. Há duas coisas neste caso que me incomodam. A primeira e mais grave é a falta de preparação e estudo na tomada de certas medidas. O falar antes de pensar e reflectir sobre todos os aspectos que envolvem determinadas decisões, o que me preocupa sobretudo para o futuro do país. A segunda que me chateia mas não me surpreende é a falta de rigor com que os meios de comunicação tratam estas questões.

(Ricardo Sousa)

*
É a primeira vez que lhe escrevo, mas perante um post colocado no seu blogue, e conhecendo o seu discurso em relação à deturpação noticiosa, que eu subscrevo totalmente, não consegui ficar "calado". Diz o leitor Ricardo Sousa que, "O PM disse explicitamente que essa medida incluía a presença de um farmacêutico no ponto de venda". Eu ouvi o discurso e não me pareceu que ele tivesse dito tal.
Consegui no sítio da TSF uma transcrição do discurso que refere, em relação à venda de medicamentos em outros locais que não as farmácias: «Desde que reunam as condições técnicas exigíveis de qualidade e segurança, nomeadamente o controlo técnico por um farmacêutico, nada justifica que esta situação se mantenha a não ser numa legislação obsoleta» Isto é substancialmente diferente. Não faz referência a que o farmaceutico tenha que estar no local de venda, o que seria um absurdo, mas refere-se ao controlo técnico, que, obviamente, não exige uma permanência constante e efectiva no local de venda. Já chega de inventar, pondo na boca das pessoas aquilo que elas não disseram.
(Paulo Viegas)

*
Eu sei que o Abrupto não é um fórum. Mas o que significa controle técnico de um farmacêutico? Não é com certeza a verificação da composição quimica do medicamento, pois isso é feito nos locais de produção e não de venda. O controle técnico de um farmacêutico quer dizer obviamente a sua presença no local para aconselhar o consumidor e prestar esclarecimentos a quem compra.
(Ricardo Sousa)

*
Escrevo este texto preocupado com as recentes declarações do actual primeiro ministro José Sócrates sobre a possível liberalização da disponibilização de medicamentos de venda livre em superfícies comerciais.

Quando nos referimos à presença técnica de um farmacêutico, tal não implica que este se encontra no local de venda ao público para acoonselhar e controlar a venda dos referidos medicamentos. Segundo legislação comunitária existente sobre o medicamento e a actividade farmacêutica, a presença «técnica» de um licenciado em ciências farmacêutica deve ser levada a cabo na produção, distribuição, armazenamento, acondicionamento e cedência ao público do medicamento; assim, o discurso de José Sócrates acaba por não ser esclarecedor ao não referir como o farmacêutico exercerá o seu papel de agente de saúde pública no processo de venda de medicamentos de venda livre nas grandes superfícies.
Não vejo qual o problema de se vender um Betadine, um Halibut ou um antiácido num supermercado; contudo, existem medicamentos de venda livre que devido às suas graves contra-indicações e às suas reacções intermedicamentosas não devem ser vendidos como se vende uma peça de fruta; neste âmbito, referi-mo por exemplo à vulgar Aspirina, que não pode ser ingerida por indivíduos com problemas gástricos ou que estejam a ser tratados com anticoagulantes.
A função de agente de saúde pública do farmacêutico não tem sido reconhecida pela sociedade nas últimas décadas, desde que as farmácias perderam a sua função oficinal, sendo este vistos frequentemente como um comerciante. Contudo, o farmacêtico é sempre o primeiro ou o último elo de ligação entre o médico e o doente, pelo que o seu papel enquanto especialista do medicamento no aconselhamento e controlo é fundamental.
Não vejo quaisquer benefícios na medida anunciada pelo Primeiro- Ministro, e passo a justificar a minha opinião: os preços dos medicamentos de venda livre são muito regulados pelo que não irão baixar significativamente; no interior é mais fácil aceder a uma farmácia do que a uma superfície comercial, e nas grandes cidades o número de farmácias é elevado, pelo que não acredito que o acesso ao medicamento seja facilitado; esta medida constitui mais um golpe num dos sectores do comércio tradicional português.
Se há quem olhe para a Associação Nacional de Farmácias como um lobby, então que dizer dos grandes grupos económicos que estão a exercer uma enorme pressão para a liberalização total das farmácias? Se essa mesma liberalização ocorresse, só sairiam beneficiados uns escassos grupos económicos ligados às grandes superfícies comerciais, prejudicando centenas, senão milhares, de proprietários de farmácias e entregando a um trabalho com condições mais precárias centenas de farmacêuticos.
Nos países onde ocorre a venda de medicamentos de venda livre nas grandes superfícies, segundo referiu o Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, o número de intoxicações por via medicamentosa tem aumentado, bem como a automedicação, pelo que numa população iletarata e com graves carências de conhecimentos científicos a imitação do modelo norte-americano e britânico seria um acto de grande irresponsabilidade. A própria venda de vitaminas, que já ocorre em estabelcimentos que não farmácias, levanta sérias questões de saúde pública, pois podem ocorrer intoxicações de consequeências graves pela ingestão excessiva de certas vitaminas e sais minerais.
Se o nosso Primeiro-Ministro quer demonstrar que sabe combater os interesses instalados então tome medidas como a alteração do modelo de financiamento das autarquias (em 2001 segundo o Eurostat eramos o país da UE com maior percentagem de área urbanizada) ou a alteração da lei que se refere ao sigilo bancário, mas não tome medidas que se não forem bem estudadas podem conduzir a problemas graves, silenciosos e ocultos.
(Luís Frederico Gonçalves Rosa, Estudante de Ciências Farmacêuticas, Representante de Portugal no Forum da Ciênca de Londres em 2002 e 2005)

*
Nos EUA os medicamentos, ditos de venda livre, são na verdade vendidos em supermercados, estando expostos em prateleiras como qualquer outro produto. O seu preço entre supermercados varia conforme as leis da concorrência directa, chegando a haver promoções.Se em Portugal não houver concorrência no preço, não vejo qual a vantagem de comprar os referidos medicamentos em lojas que não Farmácias.
Quanto ao perigo de sobredosagem, se a sua compra não fôr feita na Farmácia, é daquelas coisas que só lembrará a quem vê os seus interesses postos em causa.
Para terminar, os farmacêuticos teriam toda a razão se vendessem só medicamentos, agora vendendo perfumes,cosméticos, sapatos, almofadas, colchões, etc, creio que perdem a razão para manter o seu monopólio.
(Pedro Diniz)


*
Controlo de medicamentos não prescritos

É abusivo afirmar que das declarações do PM JS se possa inferir a exigência de um farmacêutico por prateleira.

Controlo técnico pode significar:


* A compra, preparação, armazenamento e supervisão da venda de medicamentos atentos os princípios técnicos inerentes ao consumo de medicamentos.

* Garantir o correcto funcionamento do sector , nomeadamente no que diz respeito à gestão dos medicamentos: distribuição , prazos de validade, condições de armazenamento, encomendas, concursos de aquisição, gestão de stocks, etc.

· Assegurar a segurança da exposição dos produtos face ao consumidor.

· Supervisionar a informação mínima dos assistentes do sector.

...

Por acaso o actual Director Técnico das farmácias aconselha ? Será que as farmácias em relação a medicamentos não prescritos já não funcionam como supermercados ?
(JBM)

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EARLY MORNING BLOGS 448

At Melville's Tomb


Often beneath the wave, wide from this ledge
The dice of drowned men's bones he saw bequeath
An embassy. Their numbers as he watched,
Beat on the dusty shore and were obscured.

And wrecks passed without sound of bells,
The calyx of death's bounty giving back
A scattered chapter, livid hieroglyph,
The portent wound in corridors of shells.

Then in the circuit calm of one vast coil,
Its lashings charmed and malice reconciled,
Frosted eyes there were that lifted altars;
And silent answers crept across the stars.

Compass, quadrant and sextant contrive
No farther tides . . . High in the azure steeps
Monody shall not wake the mariner.
This fabulous shadow only the sea keeps.


(Hart Crane)

*

Bom dia!

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© José Pacheco Pereira
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